De sua memória, o IHGP grava a imagem de intelectual brilhante, não introspectivo mas, ao contrário, aquele que dirige, na condição de líder. Traço marcante de uma personalidade que, quando jovem, nos idos dos anos 50, no Paes de Carvalho, era atuante no Movimento Estudantil Independente, que comandava a política dos estudantes secundaristas no Pará, como sempre recordava seu colega de militância, o também falecido, sócio efetivo do IHGP, o jornalista Acyr Castro.
Nos anos 60 Walcyr Monteiro foi aluno do Curso de Ciências Sociais da extinta Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFPA. Tendo superado as agruras da prisão durante o regime militar, Walcyr Monteiro investiu na sua trajetória intelectual. Sem perder seu perfil de líder, daquele que dirige, e mais ainda, daquele que se torna o primeiro e deixa sua marcar em projetos realizados. Foi ele que nos anos 60, na condição de presidente da Associação Paraense de Professores de História, organizou dois significativos eventos em Belém, que foram: I Reunião Amazônica de Professores de História, e II Reunião Paraense de Professores de História, motivado que ficou por um curso de extensão e pesquisa documental histórica, patrocinado pela UFPA e ministrado pelo historiador Guy de Holanda.
Como pesquisador mergulhou na fascinante temática do folclore com ênfase nas crendices e superstições amazônicas. Uma investigação cujos primeiros resultados circularam em 1972, no extinto jornal "A Província do Pará" e a I Edição em formato de livro em 1986, com o título de "Visagens e assombrações de Belém". Livro reeditado e ampliado com uma parte interpretativa sobre o culto das almas por sugestão do antropólogo Napoleão Figueiredo, merecendo uma 2° edição, no ano de 2000.
O culto das almas, investigação iniciada entre os anos de 1971 e 1972, foi outra de suas linhas de investigação incentivada por Napoleão Figueiredo que inclusive lhe cedeu fotografias do culto no âmbito da umbanda.
Investigador de fôlego, foi ampliando suas pesquisas, de modo que tornou-se o autor paraense mais lido no ano de 1999.
A produção literária de Walcyr Monteiro foi sui generis, pois não se confiou nas fronteiras acadêmicas, ao contrário, ela difundiu-se muito, cruzando várias fronteiras: as geográficas e culturais, editada no Ocidente (Europa) e Oriente (Japão).
O IHGP reconhecendo a grandiosidade de sua obra, inaugurou com esse nosso Confrade, o Prêmio Ignácio Moura, pelo conjunto da obra, na área do folclore. O evento da premiação foi realizado no dia 03 de maio de 2013, data comemorativa dos 113 anos do IHGP, nas dependências do CENTUR, com a presença de diversos sócios e como convidado especial, o ilustre Dr. Arno Wehling, presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
Três anos depois, aos 23 de janeiro de 2016, Walcyr Monteiro tornou-se motivo de selo comemorativo personalizado, lançado pela Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). O evento desse lançamento aconteceu no espaço da Escola de Samba Embaixada do Império Pedreirense, que já o havia escolhido como homenageado no Carnaval daquele mesmo ano quando levou para a avenida o tema "É de arrepiar - Viagens e assombrações de Belém cruzam a aldeia".
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Querido e saudoso companheiro dos anos 60, releio este tributo que, na condição de presidente do IHGP prestei a tua memória em que destaquei alguns dos momentos do Walcyr-intelectual que marcou sua passagem pelo nosso Silogeu. Mas, não poderia eu olvidar do Walcyr-iconoclasta que nesse ano de 2019 ofereceu aos amigos um calendário do "São Walcyr Monteiro, protetor das professoras, bibliotecárias e poetas biriteiros, acompanhado da oração para aqueles que " têm que ter fé na medida certa: não pode ter fé de mais, nem fé de menos!".
Descanse em paz, "São Walcyr Monteiro". Saudades!
Belém 29 de maio de 2019.
ANAÍZA VERGOLINO E SILVA
Presidente do IHGP