Manoel e Ana Ervedosa eram vizinhos, compadres e amigos de Waldemar e Waldomira Monteiro. Eles tinham uma única filha, Maria de Nazaré (carinhosamente chamada de Marita). Do casal Waldemar e Waldomira já haviam nascido Walter e Wanda.
Foi aí que, em 20 de janeiro de 1935, nasceu o Waldir. Marita, então com 10 anos, se encantou com o bebê e, como os prédios eram contíguos, passou a leva-lo constantemente para sua casa.
Depois nasceram Walmir e Wandira. Waldir já estava definitivamente adotado pelos Ervedosa, quando, em 27 de janeiro de 1940, veio ao mundo o Walcyr que, de imediato, conquistou a simpatia da Marita, então com 15 anos. Novo bebê levado para os Ervedosa.
Quatro anos depois, em 5 de maio de 1944, eu nasci e novamente a Marita veio a levar para casa o filho mais novo do Waldemar e Waldomira. Ela, nossa mãe, ainda teve um outro filho – o Waldemar Jr – mas, debilitada, não resistiu ao parto, vindo a falecer, em 1949, ela e o bebê.
Assim, em razão dessa paixão de nossa querida Marita (minha madrinha, também) fomos criados Waldir, Walcyr e eu pelo casal Manoel e Ana Ervedosa, a quem tratávamos e amávamos como verdadeiros pais. Walter, Wanda, Walmir e Wandira (falecida precocemente aos 17 anos) pelos nossos pais biológicos Waldemar e Waldomira.
Levaria horas para tentar esboçar um perfil do mano Walcyr e descrever sua personalidade, ao mesmo tempo inquieta, fascinante, acolhedora, rebelde, inovadora, humilde, alegre, solidária, investigativa e, unindo tudo isso, criadora.
Líder estudantil, fez do CEPC uma paixão que lhe rendeu algumas reprovações em razão de dedicar seu tempo mais à causa cepceana do que aos próprios estudos. Foi presidente do Centro Cívico Honorato Filgueiras e honrou-me com a aceitação de ser meu vice-presidente, quando em 1961, cheguei ao comando do grêmio do colégio.
Desde cedo, ele e eu, fomos vocacionados para o jornalismo, profissão que exercemos por muitos anos, inclusive trabalhando juntos na redação do famoso JORNAL DO DIA.
E é no jornalismo que Walcyr inicia sua série sobre “Visagens e Assombrações de Belém”, resgatando a memória da cidade e descobrindo um “nicho” até então ignorado pela maioria dos escritores paraenses e atraindo o interesse de um público insuspeitado: o infanto-juvenil, seguramente onde ele, até hoje, reúne a maioria de seu incontável fã-clube.
Atuamos juntos no Círculo Cultural dos 30, um clube de jovens, fundado em 1958, que reunia adolescentes que se propunham a discutir, nos fins de semana, literatura, poesia, artes, a cultura de um modo geral. Depois estivemos na Comissão Paraense de Folclore (transformada em Centro Paraense de Estudos do Folclore), no Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará, na Academia Paraense de Jornalismo e no Instituto Histórico e Geográfico do Pará.
A marca registrada do mano Walcyr, além do caráter inflexível e irrepreensível, era a liderança, o espírito participativo e solidário, o interesse em tudo aquilo que pudesse representar estímulo ao conhecimento, sobretudo da cultura amazônica. Intransigente defensor das nossas tradições, foi a primeira voz a se levantar contra a introdução do Halloween no calendário dos festejos populares.
Havia, igualmente, uma fascinação pelos temas do desconhecido, inclusive a Ufologia, que o levou a participar de eventos nacionais e internacionais que debatiam o assunto e a conhecer autores famosos como Erick Von Danniken.
Disse, há pouco, que é uma tarefa impossível tentar resumir a vida e a personalidade de Walcyr Monteiro. Portanto, é hora de encerrar esta mensagem ao término da Celebração da Esperança.
Sabemos que Walcyr foi ao encontro do Pai, relutante, sem aceitar que era chegada a sua hora, mas, certamente, muito feliz.
Todos aqui nesta Catedral somos testemunhas de que Walcyr foi um dos poucos escritores paraenses a receber muitas homenagens de reconhecimento ainda em vida. Em feiras literárias, escolas de samba, bibliotecas de escolas públicas e particulares, instituições as mais diversas, ele teve a oportunidade de receber o respeito, o carinho reverencial e as manifestações de apreço de alunos e professores. Longe de inflar-se de orgulho e soberba, acolhia com humilde alegria o afeto de cada pessoa que o procurava, quer para um simples autógrafo, quer para expressar sua admiração ou lhe pedir conselhos.
Com a verdadeira crise instalada nas livrarias de nossa cidade, seu espírito criativo e inovador levou-o a instalar, nos domingos, uma banca na feirinha da Praça da República onde expunha seus livros e conversava com seu público leitor e a legião de amigos que o procuravam. Estava se tornando um ícone da feira que, desde sua partida, abriu um enorme vazio naquele pequeno espaço de significativas confraternizações e reencontros.
Walcyr, agora, é lenda também! Será ele o personagem de inúmeros “causos” que seus amigos não se cansam de relembrar e testemunhar, desde que a infausta notícia de sua partida ganhou o mundo. A imprensa, paraense e brasileira, registraram, com imenso pesar, a sua morte. As redes sociais – Facebook, Instagram, Twitter foram inundadas das mais tocantes homenagens e de inconformados registros de sentimentos.
Em seu rosto, na rigidez da morte, havia muita serenidade e um sorriso maroto.
Ele partiu em paz, na certeza de que continua muito vivo nas recordações e no bem-querer de cada um de nós!
Belém 04 de junho de 2017.
WALBERT DA SILVA MONTEIRO
Sócio Efetivo - IHGP, Cadeira N° 25/ Patrono: José Coelho da Gama e Abreu
Discurso proferido na Catedral Metropolitana de Belém.
Ao final da Missa do 7° Dia - celebração da esperança.