Essa doação está sendo feita pelo economista Antônio Pantoja da Silva, muito amigo de Dilma, filha de Margarida Schiwazzappa, de quem recebeu uma vastíssima documentação composta por fotografias, certidões, cartas da magistral musicista e folclorista, cuja biografia está no livro “Margarida Schiwazzappa: a Primeira Dama do Teatro Paraense”, de autoria do doador Antônio Pantoja.
QUEM FOI MARGARIDA SCHIWAZZAPPA
De acordo com o dramaturgo e jornalista Carlos Correa Santos, em escrito publicado a propósito da peça que escreveu para homenageá-la (Acorda, Margarida), ela foi “musicista, entusiasta do teatro, ativista social. Vários sãos os timbres que podem definir as partituras em que a professora, regente e diretora cênica Margarida Schiwazzappa ditou sua vida. Nascida em Belém do Pará no dia 10 de novembro de 1895, filha de Henrique e Corina da Costa Schiwazzappa, a célebre dama nortista é responsável por capítulos pioneiros. Foi a difusora na Amazônia do método de educação musical conhecido como canto orfeônico. Vivamente defendida no Brasil por Heitor Villa-Lobos nos anos 30 e 40, a técnica nascida na Europa usava o ensino de conhecimentos musicais como ferramenta de socialização, integração e exaltação ao civismo. As apresentações de canto orfeônico mobilizavam milhares de pessoas (especialmente estudantes) em eventos públicos, realizados em amplos ambientes, como estádios. Apoiado por Getúlio Vargas, Villa-Lobos empenhou-se em tornar essa metodologia corrente e regeu históricas apresentações orfeônicas que congregavam multidões.
Continua Carlos Correia Santos: “descendente de artistas ligados aos palcos, Margarida estudou no famoso Instituto Carlos Gomes e obteve bolsa para fazer aperfeiçoamento no Conservatório de Canto Orfeônico, no Rio de Janeiro. Tornou-se a primeira paraense diplomada por este instituto. No concorrido e prestigiado centro de ensinos musicais, foi aluna do próprio Villa-Lobos, ganhando do maestro graus máximos nas avaliações a que foi submetida. Provas de execução musical, técnica vocal, solfejo, ritmo. Schiwazzappa destacou-se e conquistou o respeito de seus mestres, passando a ser, ela própria, mestre na arte de ensinar. De volta às terras amazônicas, fomentou o ensino do canto orfeônico de modo intenso, dedicado e apaixonado. A exemplo do que propunha seu grande mentor, o criador das Bachianas, realizou na capital paraense memoráveis apresentações orfeônicas. A mais notória de todas aconteceu no dia 06 de setembro de 1939. Num dos principais monumentos paisagísticos de Belém, a ajardinada Praça da República, reuniu mil e quinhentos alunos da rede pública de ensino e os fez cantar de forma única. Margarida também semeou importantes bases para artes cênicas na região Norte. De braços dados a relevantes nomes nacionais, como Paschoal Carlos Magno, apoiou vivamente os atores amadores e participou da fundação do histórico Teatro do Estudante. Foi professora de nomes ímpares, como Lúcio Mauro. Em sua carreira por entre as cenas, dirigiu inúmeros espetáculos que iluminaram palcos consagrados como o Theatro da Paz. Seu ferrenho empenho em incentivar os jovens a amarem as artes, especialmente as cênicas, rendeu-lhe aplausos de ícones nacionais, como Bibi Ferreira e Henriette Morineau. Preocupada com arte do bem estar nos seus campos mais vastos, Schiwazzappa também atuou em frentes humanitárias importantes. Foi, por exemplo, a introdutora da Sociedade Pestalozzi na região Norte.
Hoje, seu nome batiza um dos mais importantes teatros de Belém, a grande sala de espetáculos da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, tablado que já acolheu importantes personalidades de todo o mundo. Nomes dessa magnitude não podem jamais ganhar a surdina do esquecimento. Afinal, os acordes de Margarida continuam ecoando e fazendo acordar o melhor da herança cultural brasileira.”
COMISSÃO DE FOLCLORE FAZ HOMENAGEM
A Comissão de Folclore do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, hoje presidida pelo jornalista e escritor Walbert Monteiro e que tem como membros os escritores Célio Simões de Souza, Nazaré de Mello Uchôa, Sidiana Macêdo e Ronaldo Charlet, promoveu os contatos iniciais com o economista Antônio Pantoja da Silva que, em 1983, veio a conhecer a sra. Dilma Schiwazzappa, ambos funcionários do Banco do Brasil à época, trabalhando na agência de Paragominas. Com o passar do tempo, Pantoja veio a descobrir quem era a mãe de sua colega de trabalho e interessou-se em aprofundar uma pesquisa sobre sua vida, nascendo daí o vínculo que permitiu vir a ser o detentor de seu vasto acervo documental.
Preocupado em dar uma destinação confiável a tão precioso arquivo, Pantoja finalmente decidiu doá-lo ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará que se comprometeu em mandar recuperar e restaurar alguns desses documentos e incorporá-los ao seu patrimônio documental que ficará à disposição de pesquisadores.
A sessão solene está marcada para as 16h30.
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(*) Sócio Efetivo, Cad. Nº 25, Patrono: José Coelho da Gama e Abreu, Barão de Marajó, membro da Comissão de Folclore do IHGP.
Edição: Robson Lopes